DULCINÉA PARAENSE . O que significa encontrar, em revistas antigas da década de 1930, poemas nunca publicados em livro, versos cujas imagens têm a força que se espera do mais puro lirismo? É descobrir uma nova estrela... É ver o desabrochar de uma flor desconhecida. Dulcinéa Paraense é muito mais do que um sonho. Ela existe e voltará à sua Belém, porque é a homenageada na XV Feira Pan-Amazônica do Livro.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
O RETRATO (Para Orminda, minha mãe)
Dulcinéa Paraense nasceu em Belém, em 2 de janeiro de 1918. Mais nova de 5 irmãos, perdeu a mãe aos dois anos de idade.
Tenho-te diante de mim, a me fitar, tranquila,
bela, fina,
gravada num presente tão longínquo,
mas viva, neste instante, neste agora.
Tua cabeça aflora
sobre o cálice branco, aberto em renda,
da gola do vestido.
Teu retrato fixou um momento de tua alma
pétala frágil
a se refletir na transparência
das lágrimas represadas em teus olhos claros.
Em ti, nada sabia ou suspeitava
que este seria o “flash” derradeiro,
o último flagrante de teu desencontro
com a glória de viver.
Permaneceste jovem, lúcida, inquieta,
imune à destruidora ação das invernias
sem a marca do tempo a adulterar tua boca
sem os sulcos na face e a flacidez na carne.
Vejo-te assim:
pronta para o futuro e para o sonho. E penso
que inumana inversão transmudou nossas vidas!
Hoje, diante de ti, tão mais velha que estou,
me sinto estranhamente antiga
inundada de amor e de desvelos
no incontido desejo de embalar-te em meus braços,
repetindo as histórias e as cantigas
que te serviam pra acalmar meu pranto
e me fazer dormir
quando era eu, tua filha,
mais jovem do que tu.
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